O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, considerado a principal referência no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) há mais de 20 anos, fez um alerta contundente: o Brasil corre o risco de se transformar em um narcoestado.

Segundo ele, a facção criminosa, nascida nos presídios de São Paulo nos anos 1990, alcançou uma dimensão inédita. Hoje está presente em 28 países, domina o tráfico internacional de cocaína e se infiltra de forma crescente na economia formal e na política nacional.

De acordo com Gakiya, o PCC abandonou a ostentação violenta típica de seu período inicial e passou a operar como uma máfia moderna, movimentando bilhões de reais em esquemas de lavagem de dinheiro por meio de empresas aparentemente legítimas. “É difícil dimensionar em quais setores o grupo não está presente”, afirmou.

O promotor defende a criação de uma agência nacional antimáfia, inspirada em modelos europeus, para centralizar e coordenar o combate ao crime organizado. Hoje, segundo ele, o enfrentamento sofre com a fragmentação institucional e com a resistência de órgãos como a Polícia Federal em adotar estruturas integradas de atuação.

Especialistas em segurança pública confirmam a avaliação de Gakiya: o PCC nunca esteve tão forte em faturamento, alcance global e capacidade de infiltração social e política. Para eles, sem uma mudança estrutural na forma de combate, o país corre o risco de ver consolidar-se uma facção com poder comparável ao de cartéis internacionais.